22 de junho de 2009

Algumas considerações sobre o facilitismo dos exames nacionais – parte 2 (as calculadoras gráficas)

Este post vem na sequência do post Algumas considerações sobre o facilitismo dos exames nacionais – parte 1 (os formulários).

O meu exame nacional de matemática de 12º tinha escrito no seu cabeçalho: Material permitido - material de escrita. Portanto, nem calculadora, fosse de que tipo fosse!

Claro que não sou apologista da não utilização da calculadora, bem pelo contrário. É essencial, apesar de muito subaproveitada. Contudo, a forma como tem vindo a ser utilizada é altamente perniciosa e penso que revela bem o laxismo e o facilitismo com que os alunos se deparam.

Como referi no post anterior,

Desde que, em 2006, foram implementados os exames de Física e Química A, não houve um único exercício nestes exames que tivesse obrigado à utilização das tão importantes e louvadas capacidades que as calculadoras gráficas possuem. Ou seja, qualquer calculadora científica não gráfica permitiria resolver as questões dos exames.

Para que têm então servido as extraordinárias capacidades das actuais calculadoras? Pura e simplesmente para cabular.

Pois é, as extraordinárias capacidades das novas calculadoras são usadas da seguinte forma: para cálculos, como uma calculadora básica, não gráfica, e depois, para arquivar as cábulas .

Para que não pensem que exagero, leiam estes diálogos retirados do fórum do exames.org. (Os intervenientes não são apenas dois, mas vários).

Penso que mostram bem o estado das coisas e o clima de impunidade que os alunos sentem.

Nota: não editei os diálogos, pelo que lamento a dificuldade que venham a sentir na sua leitura.

olá! O que é que acontece se formos apanhados com programas/ cábulas na calculadora durante 1 exame nacional? :? agradecia muito que me respondessem
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quando te deixam levar maquina grafica e porque podes usar todas as suas potencialidades
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pois... na makina pods ter la o k kiseres. nao pods é escrever nd por fora. nem guardes nnhum papelinho junto ds pilhas.. lol hj ate aí foram ver!
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ya lá isso é verdade. A mim só se viram o Modelo da calculadora para ver se era admitida, e tive sorte que eram profs de Português e Filosofia a vigiarem o exame, ou seja, se vissem lá as "cabulas", e perguntassem, dizia-lhes que eram uns modelos quaisquer (sim no caso de Matemática Aplicada. mas também verdade seja dita, as minhas cabulas eram maiores que a lista de compras do início do mês! Lol
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Ninguem te pode verificar a memora da makina..!
És livre de recorrer a todas as funcionalidade da makina !

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As minhas cabulas estão protegidas por pass por isso niguem vê. Se alguem ver a lista de programas digo k não sei a pass porke a emprestei a um primo. Se eles quiserem que façam reset.
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Não, é proibido por lei fazer reset à máquina! ;)
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So podem ver o exterior da maquina. De resto nao te podem mexer nos programas ;)
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Já agora, relativamente as resets e a eles fazerem qualquer coisa na máquina: "Aos alunos é permitida a utilização de todas as potencialidades da máquina, não sendo por isso permitida qualquer intervenção no sentido de fazer reset à mesma."

Será que eles sabem que as máquinas "dão para aquilo que a gente quer"? LOL
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Pessoalmente não vejo nenhuma vantagem em pôr passes a proteger os documentos po exame, já que ninguém vos pode mecher na máquina...aliás só perdem é tempo a escrever a pass de cada vez que querem ir ao documento
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mesmo que te mexam na maquina so' podem ver o exterior. os profs n tem autorizaçao pa ver os programas da maquina
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a minha prof de FQ ainda ontem quase que nos "obrigou" a passar tudo o que pudessemos pra maquina, formulas, texto, tudo tudo :P eles nao podem ver o conteudo da maquina, a unica coisa k fazem antes do exame é ir as salas ver se as maquinas q temos estão entre os modelos autorizados pra usar no exame...por isso
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Passei horas a escrever coisas na máquina. Do que passei não sai nada. Colector solar, painel, CFCs, etc.
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Alguem me pode dar dikas para passar cabulas do pc para a makina??? tipo eu nao consigo passar...
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Ter o programa instalado e os cabos... depois é só dar ao dedo a escrever o que precisam

E ainda outra conversa, também retirada do fórum do exames.org.

Pessoal, Posso usar a MAQUINA CALCULADORA GRAFICA (claro que posso) para cabular??? Tipo, copiar textos da calc e os stores a ver? Posso fazê-lo sem ser às escondidas? Eles não anulam a prova ou veem ver as maquinas? Como é?
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Podes por lá o que quiseres, mas por amor de deus, daí a teres o stor a ver que estás a copiar tudo da calculadora, é abusar um bocado. Digo eu.
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Então posso? Quer dizer, copiar sem stress?
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Podes copiar. Podes por o que quiseres na calculadora o que quiseres. Mas, teoricamente, não se pode copiar nos exames, por isso se estiverem a olhar para ti, espera um bocado. Quando o prof nao estiver a ver, vai ver as cábulas. Ele só consegue ver que tens texto na calculadora se estiver em cima de ti (o que duvido). Isto tudo para dizer: podes copiar, mas nao sem stress.
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Podes usar "todas as potencialidades da calculadora gráfica", por isso... Claro que parece mal um setor estar a ver-te a copiar, mas eles não tem autorização para nos mexerem nas máquinas e nós podemos usar a máquina com todas as suas capacidades, por isso, acho que podes tar à vontade
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Podes fazer o que te apetecer com a informação que tens no "software" da calculadora.
E se algum vigilante implicar contigo, estás à vontade para o processar.
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Processar? Eu só preciso de copiar o que ta na maquina...
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Pois, mas imagina que te faziam reset à máquina e perdias a informação que lá estava (eu cá não corro esse risco porque tenho tudo no arquivo)... Nesse caso podias muito bem processar quem te tinha feito isso. E, obviamente, não podem dizer-te o que quer que seja relativamente à informação que tens na calculadora...
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De acordo com a lei, podes recorrer a todas as capacidades da calculadora. Não podes é ter nada escrito a caneta nem papéis na calculadora que pareçam ser cábulas...
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Assim sim, mas espero ficar nas mesas de tras, para nao correr riscos, mas as portas ficam abertas por isso nao sei nao !!!!
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Não corres riscos.

Reparem como a dúvida já não era se podiam utilizar as cábulas mas se o podiam fazer mesmo com os professores a ver. Pois é, os alunos sabem que não correm riscos e algum vigilante mais metediço ainda se arrisca a ser processado por algum menino. Tudo isto com a autorização dos serviços do ME. Leiam este esclarecimento, enviado para uma escola, pela DGIDC (Direcção-geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular), serviço do ME. Pode encontrar aqui o documento completo. Clique na imagem para que a possa ver em bom tamanho.Oficio_Circular_1743_09_2 É isto que se pretende dos alunos da área de ciências? Muitos alunos podem não saber utilizar muitas das ferramentas, de facto necessárias e muito úteis, da calculadora, mas não há nenhum que não saiba como utilizá-la para cabular. Fazer exames assim é quase o mesmo que fazê-los com consulta.

Para mim é óbvio que à entrada dos exames (e testes, já agora) devia fazer-se reset (limpeza da memória) à calculadora. Não o fazer é fingir que não sabemos que os alunos estão a cabular. Para quem não sabe, o reset à calculadora não retira qualquer das funcionalidades necessárias para realizar a prova.

Será que todos os que opinam sobre estes assuntos têm conhecimento de que as coisas se passam desta forma? Será que ignoram para não arranjarem chatices com recursos e processos? Serei só eu que acho isto escandaloso?

Nota final: também já é possível utilizar as máquinas de calcular gráficas nos exames de matemática do 9º ano. Agora só falta permitir o CAS.

E depois disto tudo ainda há quem continue a dizer que há rigor e exigência. Pois!

Se tiver algo a dizer sobre o tema, convido-o a deixar um comentário.

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29 comentários:

André Estêvão disse...

Isto é para rir? Sinceramente... Mesmo com os formulários todos estão preocupados como hão de copiar. Mas isso parece ser o menor de tudo. Gostei muito de uma fala em que um dizia que a própria professora de quimica lhes tinha pedido para passarem tudo para a máquina. Ainda mais, gostei do facto de os próprios professores que estão vigiar, possam ser processados pelo simples facto de repararem que o aluno está a copiar e eles o impedirem. O facto de o próprio ministério da educação ter feito aquela lei, era para rir. E depois dizem que Portugal se está a comparar a grandes países, que os nossos alunos são cada vez mais inteligentes. Estamos em Portugal, o que é que se pode fazer??!

Carlos Pires disse...

Obrigado, Rui!

Estes posts que escreveveste sobre o facilitismo (promovido por este governo) nos exames nacionais é um autêntico serviço público!

J.M.P.O disse...

Fiquei absolutamente surpreendido. Mas as potencialidades da máquina necessárias para a resolução da prova (cálculo, gráficos, funções…) não ficam afectadas se carregarmos no reset pois não?

Estava eu a ler o diálogo dos alunos e a pensar “bem, carregar no reset deve ser permitido porque os professores não estão a ver o que os alunos têm na máquina (não estão a violar a sua privacidade) e “todas as potencialidades da máquina” deve ser interpretado restritivamente no sentido de poder fazer o reset porque há o perigo de copiar e é impossível fazer vigilância eficaz a todos. ”. “Mais ainda”, pensei eu, “alegar em tribunal que fizeram reset à máquina seria abuso do direito”.

Depois deste raciocínio vejo aquela circular absolutamente estúpida. Ainda estou chocado! Depois desistem quando chegarem à faculdade ou então ficam à porta do mercado de trabalho. Com Bolonha, a concorrência será maior (principalmente nas áreas científicas) e o governo autor do “plano tecnológico” faz disto. Se comêssemos estatísticas íamos no bom caminho.

Rui Barqueiro disse...

JMPO,

acrescentei no post a informação de que o reset não retira qualquer das funções necessárias à resolução do exame.

Obrigado pelo seu comentário. É bom que mais pessoas tenham conhecimento do estado das coisas.

Fartinho da Silva disse...

Inacreditável ao que chegámos!

Anónimo disse...

Mais um agradecimento pelos esclarecimentos sobre o que é que efectivamente está a acontecer. É tão óbvio, mesmo para quem não é destas áreas como é o meu caso, que é demasiado triste. Por mim, não quero que os meus filhos passem por isto. Nem os meus alunos. Mas passam. Logo, reponha-se a credibilidade do genuíno conhecimento.

João Paulo Maia

Maria José Andrade disse...

Não sei se todos saberão que no caso de Matemática, desde o ano 2000 que é obrigatório o uso da calc gráfica no exame nacional de 12º ano. O facto de os alunos poderem guardar o que quiserem está relacionado com aquilo que se pretende avaliar, isto é, deixa de se valorizar tanto por exemplo o decorar de fórmulas e mais o saber em que situações elas são para aplicar. Ter a fórmula disponivel na calculadora não significa que o aluno sabe quando tem que a utilizar. É evidente que as perguntas não podem ser, e não são, "directas".
Para quem nunca deu aulas com a calc gráfica, ou nunca teve aulas com a calc gráfica, acredito que isto seja confuso. Ouçam um professor que tenha alguma experiência e verão.
Espero ter contribuido para o debate.

Rui Barqueiro disse...

Em primeiro lugar, obrigado pelos comentários anteriores.

Quanto ao último...

Penso que são duas questões diferentes.

Não são só fórmulas que lá colocam. Por exemplo, para calcular a continuidade, colocam todos os passos a seguir, o Teorema de Bolzano e seu corolário também também para lá vão. Ou seja, vão as fórmulas e raciocínios a seguir.

E quanto ao facto das perguntas não serem directas, há exames em que isso pouco sucede. O de 2008 então foi ridículo. Resolvo-os todos os anos e nunca vi algo assim.

Dantes ainda era necessário que percebessem que para calcular algo num determinado instante ou, para que valor tenderia certa propriedade, teriam que descobrir esse instante, substituí-lo na função e comentar segundo o contexto.

De repente a questão passou a ser: calcule f(0). Calcule o limite para + infinito.

Felizmente neste primeiro de 2009 a dificuldade já subiu.

Miguel Galrinho disse...

Queria dar-lhe os meus sinceros parabéns pela análise que fez da evolução dos exames. É urgente que isto seja feito mais vezes, para as pessoas terem uma noção real do facilitismo que está implantando hoje em dia no ensino pré-universitário em Portugal. Não conhecia o blog, mas a partir de agora será de leitura obrigatória. Excelente post!

Cumprimentos

Rui Barqueiro disse...

Miguel, obrigado pelo comentário.

Felizmente ainda há alguns que não se conformam com o estado das coisas. Reparei, pelos textos do seu blogue, que está do lado certo.

Apareça sempre.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Antes que nada não quero parecer desrespeitoso a ninguém, e se for peço desculpa.

Este artigo inteiro é uma anedota. Acusam as regras actuais de serem demasiado facilitistas, e aposto que os autores dos restantes posts nem sequer se deram ao trabalho de dar uma olhada por algum teste intermédio.
As cábulas são permitidas muito simplesmente porque todo o teste intermédio é À BASE DE PROBLEMAS. Há-de me dar um exemplo de alguém que conheça que tenha conseguido dar uma resposta a um TI UNICAMENTE COM RECURSO À CALCULADORA. Com todo este facilitismo das provas e exames, como o senhor clama, e já que toda a gente tem a vida facilitada pelas cábulas, consegue-me explicar como é que a média nacional dos exames de Física e Química A seja de 8,6 valores?

Não é permitido fazer reset à calculadora muito simplesmente porque esta é propriedade privada do aluno e NINGUÉM tem a autoridade para mexer na propriedade privada de outrem, Corrija-me se estiver errado, por favor.

Penso que todos as pessoas que postaram a concordar com o autor do artigo, nem se dignaram a ler em diagonal um teste intermédio que seja.

As melhores felicidades para o seu blog.

Rui Barqueiro disse...

Caro anónimo,

parece-me que o facto de as cábulas serem permitidas não lhe oferece qualquer sinal de preocupação. O facto de ter essa opinião e, caso seja professor, é que julgo ser sinal de preocupação, já que o aluno com as melhores cábulas estará em vantagem. Não sei se tem a noção do que é possível introduzir nas calculadoras, mas algumas permitem importar texto directamente do PC e, com a memória que têm, pouca teoria e “resoluções tipo” ficam de fora.

A grande dificuldade dos alunos é na leitura e interpretação dos enunciados. Não porque estejam mal elaborados, mas porque a iliteracia funcional é habitual nos alunos com que me deparo. Lêem mal e interpretam pior. Quando um aluno me diz que não percebe uma questão, eu limito-me a ler o que lá está escrito. Quando acabo, ou ainda antes disso, dizem-me: “Ah! Já percebi, estava a a ler mal!”

Afirma que "...todo o TI é À BASE DE PROBLEMAS. Há-de me dar um exemplo de alguém … que tenha conseguido dar resposta a um TI UNICAMENTE COM RECURSO À CALCULADORA." e, mais à frente: "Penso que todos as pessoas que postaram a concordar com o autor, nem se dignaram ler um TI que seja."

Quanto a isto digo-lhe que se alguém não leu ou, lá está o problema da iliteracia funcional, leu mal, esse alguém foi o senhor. Apresento-lhe algumas perguntas (retirados do mesmo teste intermédio de 11º - 26.05.2009) que são perfeitamente respondidas através da consulta às calculadoras. Valem, no total, 88 pontos (em 200). Em qualquer teste intermédio ou exame nacional encontrará questões do mesmo género.

1.2. A Teoria do Big Bang pode ser evidenciada por alguns fenómenos detectados no Universo. Indique um desses fenómenos.
1.4. O enxofre e o oxigénio situam-se no mesmo grupo da Tabela Periódica. Seleccione a única alternativa que contém os termos que preenchem, sequencialmente, os espaços seguintes, de modo a obter uma afirmação correcta. O átomo de enxofre tem ____ raio atómico e ____ energia de ionização do que o átomo de oxigénio.
(A) maior ... maior
(B) menor ... maior
(C) menor ... menor
(D) maior ... menor
1.5. Um átomo de oxigénio ligado a dois átomos de hidrogénio forma uma molécula de água. Justifique a seguinte afirmação: «a molécula de água tem geometria angular».
3.2. O ácido clorídrico reage com o ferro de acordo com a equação
2 HCl (aq) + Fe(s) → H2(g) + Fe2+(aq) + 2 Cl– (aq)
Seleccione a única alternativa que contém os termos que preenchem, sequencialmente, os espaços seguintes, de modo a obter uma afirmação correcta. O átomo de ferro, ao ______ dois electrões, ______, sendo o ferro a espécie ______.
(A) ceder ... reduz-se ... oxidante
(B) ceder ... oxida-se ... redutora
(C) ganhar ... reduz-se ... oxidante
(D) ganhar ... oxida-se ... redutora
4.1. Na situação I, a bola é lançada verticalmente para cima, com velocidade inicial de módulo 5,0 ms–1.
4.1.1. Determine a altura máxima atingida pela bola, em relação ao nível do lançamento. Apresente todas as etapas de resolução.
5.2.2. Seleccione a única alternativa que contém os termos que preenchem, sequencialmente, os espaços seguintes, de modo a obter uma afirmação correcta. A transferência de energia entre a resistência térmica e a água processa-se essencialmente por ______, sendo a energia transferida sob a forma de ______.
(A) condução ... radiação
(B) convecção ... calor
(C) convecção ... radiação
(D) condução ... calor
6.2. Os seres vivos evoluíram num mundo com campos eléctricos e magnéticos naturais de baixa intensidade, mas as novas tecnologias multiplicaram os campos electromagnéticos à nossa volta. Elabore um texto, abordando os tópicos seguintes:
• Como são criados os campos magnéticos.
• Relação entre a direcção, o sentido e a intensidade do vector campo magnético e as linhas de campo magnético.
• Forma e posição relativa das linhas de campo num campo magnético uniforme.

(Continua…)

Rui Barqueiro disse...

(…Continuação)

Pergunta-me: “consegue-me explicar como é que a média nacional dos exames de Física e Química A seja de 8,6 valores?”

Digo-lhe que a utilização das calculadoras contribui muito para isso pois os alunos deixaram de considerar que o saber era importante pois a sua calculadora encarrega-se de saber por eles. Como é que poderão os alunos poderão então estar conscientes de todos os conceitos e suas interligações que são necessários estar bem compreendidos para que as questões se tornem óbvias?

Actualmente quando um professor diz que algo é muito importante saber bem, rapidamente se ouve dizer: “Vai já para a calculadora!”

A Química e a Física são disciplinas muito ingratas para quem não lhes dá o merecido respeito e pensa que lá chega com atalhos. Como diz o ditado, quem se mete em atalhos, mete-se em trabalhos.

Quanto à questão da calculadora ser uma propriedade privada e ninguém ter a autoridade de nela mexer, sinceramente não me apraz comentar a chico-espertice do argumento que usou para justificar a impossibilidade de eliminar as cábulas. Como professor de Física e de Química não serei a pessoa mais indicada para lhe responder à pergunta. Sugiro que contacte um advogado.

Desrespeitoso não foi, apenas foi ligeiro na análise que fez. Volte que será sempre bem-vindo.

Unknown disse...

Caros Senhores,

Li toda a conversa deste blogue acerca da utilização de calculadoras gráficas, e cheguei a uma conclusão. O senhor Anónimo, neste tema, é detentor da razão. Compreendo que entrei a doer, mas quero explicar porque é que afirmo isto. Então os senhores reparem:

Um Teste Intermédio baseia-se, tal como foi dito pelo caro Sr. Anónimo, em problemas. Contudo, temos a questão do tamanho. Tal como todos os senhores devem saber, a calculadora, assim como um computador, tem uma memória limitada, isto é, não podemos escrever um livro neste instrumento de trabalho, sem cuidarmos do espaço que estamos a ocupar. O que é que eu quero dizer com isto?

Em média, um aluno tem de estudar cerca de 900 páginas de matéria para o exame nacional, sendo este número a soma de todas as páginas dos quatro livros da disciplina (Física de 10º; Química de 10º; Física de 11º e Química de 11º). Note-se que este número não inclui as páginas de introdução, soluções e qualquer outra página que não contenha matéria importante para a realização do exame.
Agora digam-me: Os senhores acham que é possível passar 900 páginas para uma calculadora gráfica? Mais. Já viram o trabalho que daria a um aluno, estar sentado numa sala, agarrado a uma calculadora, e procurar um pequeno pedaço de matéria para resolver uma questão de escolha múltipla, numa lista quase infindável de 900 páginas? É ridículo! E isto para não dizer que requeria um esforço quase sobre-humano para consultar as cábulas em cada escolha múltipla e perguntas de cálculo, e resolvê-las em 150 minutos. Que proeza fascinante, para gente com 16 anos, não concordam?
Os senhores clamam pela proibição do uso de calculadoras gráficas em exames, e quem inicou este debate, afirmou, que quando fez o seu exame de Matemática do 12º ano, não podia utilizar este instrumento.
O avião a jacto já foi inventado. Mas se dependesse de gente como os senhores, ainda atravessávamos continentes num barco a remos. Se temos meios, porque não utilizá-los? Esta é a minha opinião, como cidadão e como aluno do 11º ano.

Grato pela vossa atenção.

Rui Barqueiro disse...

E mais um anónimo.

Agradeço o seu comentário. A minha opinião continua a ser a mesma. Aquilo que afirma atira ao lado da questão principal, mas também não vou repetir-me. O post e o meu anterior comentário dizem tudo o que penso. Só uma achega: O problema não são os meios, mas a forma como estão a ser usados e como impedem muitos alunos de atingirem o máximo das suas capacidades.

Como conclusão, gostaria de relembrar que o avião a jacto de que fala foi desenvolvido por pessoas que durante o seu percurso escolar não tiveram estas facilidades. Ainda está por provar que a metodologia actual seja mais produtiva. Aliás, muitas queixas têm sido feitas nos últimos anos por professores universitários sobre a falta de preparação com que muitos dos actuais alunos chegam ao ensino superior. (E agora permita-me um pouco de ironia: Sinceramente espero que graças a estas metodologias não venhamos a ter outra solução que não o barco a remos para atravessar o Atlântico). Volte sempre que será bem-vindo.

Unknown ou "Mais um anónimo" disse...

Permita-me discordar acerca da sua opnião, quando diz que "atiro ao lado da questão principal". É verdade, que muitos alunos vão mal preparados para cursos superiores, devido à confiança que depositam na máquina de calcular. Com certeza entendeu mal a minha mensagem. Tentarei desta vez, ser mais claro.
Eu não discordei do senhor, quando afirma que os recursos estão a ser mal explorados. É de salientar que há alunos, e alunos. Eu, pessoalmente, acho a conversa dos membros do forum "exames.org" absolutamente irracional, para não dizer mesmo que é "triste". O que tentei sublinhar foi o facto de que é impossível um aluno completar um exame ou teste intermédio, utilizando apenas as cábulas da calculadora, devido a barreiras técnicas e a limitações no tempo de realização da prova. O que eu quero dizer com isto é que as cábulas, por muito úteis que sejam, não providenciam esse facilitismo todo que clama no seu artigo. Obviamente se formaram melhores profissionais no seu tempo, onde tudo tinha de ser feito á mão. Hoje em dia, se pedir a um aluno de 12º ano para fazer uma conta de dividir, sem recurso á calculadora, aposto que ele não a saberá resolver. Mas o senhor está a comparar dois tempos completamente diferentes. Tudo está mudado. Hoje em dia, há electrónica em todas as áreas. Inclusivé, senhores que fizeram a prova de matemática e física e química tal e qual como o senhor a fez, tiveram de aprender a utilizar a máquina de calcular. O que eu quero dizer é que o objectivo do ME não era tornar os estudantes em futuros profissionais menos capazes, e muito menos deixá-los cabular "a torto e a direito" no exame nacional. O objectivo era habituá-los ao uso do intrumento.

Verdade absoluta, quando afirma que o avião a jacto não foi inventado por pessoas que tiveram estas facilidades. A calculadora também não. Em relação ao avião a jacto e ao barco a remos, era apenas uma metáfora.

Grato pela atenção.

Rui Barqueiro disse...

"O que eu quero dizer é que o objectivo do ME não era tornar os estudantes em futuros profissionais menos capazes, e muito menos deixá-los cabular "a torto e a direito" no exame nacional. O objectivo era habituá-los ao uso do instrumento."

É perfeitamente possível conciliar esse objectivo que afirma e não permitir as cábulas. Bastaria realizar reset às calculadoras e não permitir os cartões de memória. Como deve saber, há calculadoras permitidas cujo software é de tal forma sofisticado que permite visualizar documentos como se do word se tratasse.

Mas, basta ler o esclarecimento pela DGIDC (Direcção-geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular), serviço do ME, que apresento no post, principalmente o seu último parágrafo, para perceber a confusão que fazem entre potencialidades da calculadora e recursos extra adicionados (cábulas). Nenhum reset retiraria qualquer potencialidade intrínseca a uma calculadora. Limparia apenas os "programas" colocados pelos alunos.

E mais uma vez afirmo: eu não sou contra a utilização de calculadoras gráficas. Sou contra a forma como estão a ser utilizadas e o mal que estão a fazer ao ensino das ciências.

Desejo-lhe um excelente resultado para o exame de FQ que se avizinha.

Unknown disse...

"E mais uma vez afirmo: eu não sou contra a utilização de calculadoras gráficas. Sou contra a forma como estão a ser utilizadas e o mal que estão a fazer ao ensino das ciências."

Estou inteiramente de acordo consigo. Em relação ás calculadoras que permitem visualizar cábulas como se fossem documentos do Word, elas não são permitidas em exame. Apenas algumas o fazem, e como permitem a utilização do CAS, não é permitida a sua utilização nas provas de FQ e Matemática. Estou, no entanto, a par do documento do DGIDC, acerca da utilização de calculadoras nos exames. Mas disso só se pode tirar uma conclusão: Ou eles não sabem mesmo que o "reset" só apaga da calculadora todos os programas que foram instalados desde a sua compra e coloca as definições em "default", ou querem fingir que os alguns alunos não cabulam nos exames.

Grato pela atenção, e obrigado.

Anónimo disse...

Estão a falar porque não são vocês que fazem o exame. Eu queria ver vocês nesta situação. Da maneira que estão a falar parece que nem sequer tem o nono ano.

Anónimo disse...

Concordo com os Anónimos. E os senhores não falem do que não sabem

Anónimo disse...

"É isto que se pretende dos alunos da área de ciências?"
Tome em atenção que isto não é apenas algo que se passa na área de ciências, mas sim em áreas que se tenha matemática (a, b ou macs) e o uso desta máquina seja permitida, tal como a área de economia, línguas e até mesmo artes.

Luar Azul disse...

Penso que há várias questões diferentes que é importante discriminar.

1.Se os testes estão bem feitos
2.Se as calculadoras devem poder ser utilizadas
a) depois de um reset
b) com cábulas
3.Que implicações traz para a vida profissional
4.Se um aluno que não compreenda a matéria consegue passar no exame devido às cábulas.

Também gostava de sugerir que os jovens têm tendência para exagerar os seus resultados "sou muita bom porque fiz isto que ninguém fez - programei a minha calculadora e passei no exame devido a isto!!". Temos de considerar que há muita testosterona envolvida em frases como esta.

Agora, sobre a questão 1 não sei o suficiente. A questão dois, a ser resolvida no sentido de fazer reset, teria de ser implementada para todos os alunos. Ou seja, teria de se fazer "reset" a todas as máquinas gráficas antes do exame. Isso, em termos logísticos, iria implicar algumas mudanças, por exemplo, os professores que vigiam a prova teriam de ter algum tipo de formação nesse sentido (mesmo que mínima não é irrelevante, até porque o processo é diferente consoante a marca da calculadora). Ou então teria de se dar aos professores de matemática mais tempo para o fazerem. O que não pode acontecer de todo é que em alguns casos se faça reset e noutros não.

Em relação à terceira questão é que as coisas me parecem mais difusas. Eu sempre tive grandes dificuldades em memorizar coisas, tenho um curso superior (na área de humanidades), segui investigação e no entanto não consigo ter cabeça para fórmulas. Gosto de compreender as coisas. As fórmulas que compreendo já não me saem da cabeça, mas há muitas que apenas consigo aceitar sem compreender. Por exemplo, porque raio a aceleração varia de acordo com "1/2 at^2"? Eu não percebo o porquê disto, não consigo visualizar. Acredito que funciona, mas é difícil para mim memorizar toda a enorme quantidade de fórmulas que apenas aceito sem compreender. No mundo prático da engenharia, etc, em que é preciso pôr em prática um grande conjunto de fórmulas, dá imenso jeito ter uma calculadora "minada", desde que ela permita, com tantas cábulas, resolver os problemas práticos para que foi desenhada.

ora como é que nós sabemos se alguém conseguirá ser proficiente na sua futura atividade profissional? Bem, se tivermos bons exames sabê-lo-emos. Porque uma pessoa capaz de resolver problemas difíceis no exame (com ou sem auxílio da calculadora) será também capaz de os resolver cá fora (com ou sem auxílio da calculadora). A meu ver, o ênfase deve estar na qualidade dos exames.

É claro que alguém que se orgulha de conseguir resolver tudo sem auxiliares poderá ver com maus olhos alunos, colegas ou mesmo superiores (no local de trabalho) a usarem-nas com bons resultados. Mas a vida é assim mesmo: o homem está cada vez mais dependente da máquina. Para o bem e para o mal estamos a formar uma simbiose homem-tecnologia de qual será cada vez mais difícil sair.

Anónimo disse...

Facilitismo? as medias de hj em dia num curso decente sao 18 para cima, nos vossos tempos era media de 10.
O programa aumentou e evoluiu , acordem meus senhores , podiam levar o livro na maquina que nao vos valia de nada faziam 3 paginas e as outras 6 ficavam em branco.
Facilitismo hj em dia? fugir á justiça
Fartei me de rir do formulario , decorem os senhores as constantes e os valores , sim?

Anónimo disse...

Observando os exames, de ponto de vista objectivo, concordo plenamente com a análise que fez.
Falando agora como uma aluna, sim - as máquinas de calcular são uma perfeita desculpa para legalizar a cópia nos exames - mas considerando como decorrem as aulas, tanto da parte do professor como dos alunos, prefiro aproveitar-me desta lei do que chegar a casa e ter de estudar a matéria toda para perceber as fórmulas que simplesmente foram colocadas no quadro. É importante avaliar também o ensino, e depois os exames em função deste. São raros os professores bons no secundário que tive, a maior parte limitou-se a descarregar a matéria e nós que nos "desenrascássemos". Eu não vivo para a escola, e gosto de ter tempo livre quando acabam as aulas ao fim do dia. Comecei o secundário como aluna interessada, mas a indiferença dos professores quanto ao se percebemos ou não e a SECA que muitas das aulas foram matou qualquer interesse que houve pela disciplina. Consequência: agora percebo pouco de física e química e vou a explicações para que possa ter uma nota razoável no exame, que tão facilitado que é.

Anónimo disse...

Olá, gostaria de dar a minha opinião, enquanto aluna. Bem, primeiramente devo dizer que mesmo que muitos alunos utilizem a calculadora para pôr a matéria toda, penso que não serve de muito, tal como colocar determinadas fórmulas na calculadora... pois, na minha opinião, os alunos podem colocar mas depois chegam ao exame não percebem nada onde e quando devem aplicar as fórmulas e depois perdem muito tempo a tentar perceber onde se aplica nos problemas e quando deram por isso, já acabou o exame!
Eu vou ser honesta, eu também coloco determinadas fórmulas na calculadora. Porquê? Porque para mim não é importante o "saber todas as fórmulas", mas sim percebe-las e onde aplicá-las. Alem disso é muito fácil falar, existem milhares de fórmulas e em apenas 2 anos temos que sabe-las quase todas...pois sim...nenhum aluno consegue fazer isso em 2 anos!

Anónimo disse...

Boa tarde,
Estive a ler todos os comentários e acho completamente normal, mas se acham que é facilitismo façam os exames nacionais a ver se são fáceis, podemos por os textos que quisermos e a matéria que quisermos mas garanto-vos que não serviram de nada. Só perderam tempo a escrever, e na altura que estão a realizar o exame acabaram por não responder nada. Apenas perderam tempo a procura das respostas que a calculadora não vos pode dar. Ou seja, isto de utilizar a calculadora para cabular e uma coisa impossível, e só quem é aluno e faz exames nacionais é que vai perceber. No exame de Matemática A é mesmo impossível, porque as perguntas do exame tão feitas para quem estuda e percebe muito da matéria. Por isso não me venham dizer que é facilitismo que não é. Normalmente quem diz que é fácil é porque nunca fez e está pela primeira vez a fazer, e quando chegam na altura de fazer o exame acabam por me dar razão.

Anónimo disse...

ri-me com este post embora já tenha sido feito à alguem tempo, podem até fazer reset às maquinas que a unica coisa que apagava era os programas, e os alunos põem num sitio onde o reset nao apaga ;)

Anónimo disse...

Tenho um amigo meu, que por acaso faz muitas, mas mesmo muitas ''cabulas'' (como voces chamam) na calculadora, e sabem com quanto é que ele acabou no final do ano a fq? 9 valores de 0 a 20, e eu que por acaso tambem tinha mais ou menos as mesmas ''cabulas'' que ele tinha, acabei com 18. As ''cabulas'' que temos nas calculadoras nao sao cabulas, mas sim, ''coisas' que temos que decorar, ''coisas'' que nao são necessarias para conseguir ou nao fazer os exercicios propostos, porque quem nao estudar e nao souber a materia nao consegue tirar boas notas. As ''cabulas'' so servem mesmo para o caso de termos que nos lembrar de uma formula ou de ir buscar algo que nos pedem mas que tinhamos que decorar. Nesta area (ciencias e tecnologias) nao temos de decorar temos que perceber, dai ser apologista de que a calculadora é muito importante, visto tambem que hoje em dia nos exames mais recentes pedem SEMPRE uma resposta que temos que fazer com a calculadora grafica. Por isso penso que essa maneira de pensar é um pouco velha para os tempos que correm. Cumprimentos

Anónimo disse...

Não consigo esconder a minha revolta em relação a este post, embora já tenha sido feito há anos. Não vou expor tudo o que penso aqui, pois espero que o autor já não se mostre tão ignorante nos dias que correm. Mas, críticas à parte, convido todos os que acusam o sistema de educação do nosso país de "facilitismo" aos alunos que realizam exames do secundário de física e química ou nas disciplinas que envolvem matemática, a decorarem todas as fórmulas para um desses exames. Sim: porque o formulário pode fornecer algumas orientações, mas apenas para alguns exercícios e fórmulas, não todos. Para opinar é necessário conhecimento, coisa que falta (e muito) por aqui.

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